O movimento The Great Male Renunciation retirou todos os excessos do estilo masculino e criou a sobriedade das roupas masculinas que conhecemos hoje.
No final do Século 18, o estilo masculino passou a valorizar a sobriedade, abandonando os excessos aristocráticos em favor de cortes simples e cores discretas, conforme o conceito de The Great Male Renunciation. Descubra aqui como essa transformação refletiu as mudanças sociais e políticas da época, estabelecendo o terno como símbolo de elegância masculina.
Cartolas, echarpes, longas casacas, luvas, bengalas com pedras preciosas. Esses eram elementos fundamentais no guarda-roupa de qualquer homem que desejasse expressar elegância até a virada do Século 18 para o Século 19.
Forças muito parecidas moviam homens e mulheres na hora de se vestir: preocupação com detalhes, vaidade explícita e, mais do que isso, disponibilidade para passar horas em frente ao espelho.
O estilo masculino após a Revolução Francesa
Mesmo após a Revolução Francesa (1789-1799), que derrubou a nobreza do país e colocou as demais dinastias europeias em alerta, a figura do aristocrata seguia expressando – ainda que de forma um pouco mais discreta – o estilo de vida de excessos da corte.
Reprodução atual do que era a elegância masculina nas cortes do Século 17
Uma aparência feita de roupas ostensivas era sinal de status, uma clara identificação de que tal homem era rico e poderoso. Ao longo do Século 19, no entanto, as mudanças no guarda-roupa e no estilo masculino já eram evidentes.
Percebendo que as mudanças políticas e sociais da Europa tinham afetado definitivamente o modo de vestir dos homens, o psicanalista inglês John Flügel foi uma das pessoas que mais notadamente catalisou as novas tendências. No início do Século 20, ele identificou um fenômeno no estilo masculino que chamou de The Great Male Renunciation – ou “a grande renúncia dos homens”.
O estilo masculino dos homens de negócios
O termo trazia a palavra “renúncia” como referência à rejeição dos homens ao rebuscamento e em nome de uma aparência mais sóbria. Os cortes, tecidos e cores que se passou a identificar como próprios do estilo masculino primavam pela sobriedade e não mais pela extravagância. A aparência continuava transmitindo o grau de status, mas agora ser discreto era a regra.
Isso não significava, no entanto, que o novo conceito de estilo masculino prescindisse de sofisticação. Porém, não havia mais lugar para cores chamativas tampouco espaço para o farfalhar das capas sobrepostas aos fraques. Os tons passaram a ser frios e as silhuetas simples, como as do terno que conhecemos hoje.
A verdade é que o dinheiro havia começado a mudar de mãos e estava cada vez mais em poder dos chamados “novos aristocratas” e não mais da nobreza. Uma diferença fundamental diferenciava os dois grupos: enquanto os nobres viviam apenas para desfrutar os privilégios concedidos por seus títulos (duque, conde etc), os novos aristocratas, também conhecidos como “burgueses”, eram homens de negócios.
O estilo masculino à serviço da rotina de trabalho
Essa nova classe endinheirada estava mais atenta aos apelos da vida prática e às exigências da rotina de trabalho. Precisavam e queriam colocar a “mão na massa”. O ócio da nobreza como retrato de uma vida ideal estava ficando para trás.
Agora as pessoas andavam nas ruas, trabalhando e dividindo o espaço urbano. Esse novo cenário forçava a convivência entre diferentes classes, algo impensável até o Século 18. O próprio mundo dos negócios exigia isso. Era natural que as roupas acompanhassem os novos movimentos do corpo.
O estilo masculino da primeira metade do século 20 no traço do artista George Barbier
O estilo masculino chegou aos ternos
Foi assim que tecidos brilhantes, ou muito decorados, e adornos desnecessários (cartolas, bengalas, pincinets) sucumbiram à nova realidade de uma Europa agora industrial.
Os acessórios deixaram de ser supérfluos para se tornarem úteis, como os relógios. E a qualidade, resistência e durabilidade do terno fizeram do alfaiate uma figura historicamente ligada a um luxo discreto, escondido na gravata standard ou num corte perfeito. Essa era a nova elegância para os homens.
E essa moda não teve nada de passageira. Se hoje temos a imagem de um homem sofisticado calçando um belo e resistente Oxford, vestindo paletós em tons predominantemente sóbrios, com as barras das calças perfeitamente ajustas e um cuidado até na escolha das meias, é porque um dia os senhores renunciaram ao exagero e abraçaram a simplicidade. E pelo menos até agora, nenhum estilista do mundo conseguiu alterar esses códigos.