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The Great Male Renunciation: quando a moda masculina abraçou a simplicidade

No final do século 18, o movimento de “renúncia” aos excessos recriou o estilo masculino à  maneira como ainda o conhecemos hoje

 

O estilo do personagem 007 (atualmente interpretado pelo britânico Daniel Craig) resume a elegância da moda masculina no século 21

 

Cartolas, echarpes, longas casacas, luvas, bengalas com pedras preciosas. Esses eram elementos fundamentais no guarda-roupa de qualquer homem que desejasse expressar elegância até a virada do século 18 para o 19. Outro aspecto interessante até aquela época é que forças muito parecidas moviam homens e mulheres na hora de se vestir: preocupação com detalhes, vaidade explícita e, mais do que isso, disponibilidade para passar horas em frente ao espelho.

 

Essa cena do filme Maria Antonieta, que retrata o casamento da rainha com o rei Luis XVI no século 18, mostra claramente como forças muito parecidas moviam homens e mulheres na hora de se vestir

 

  Mesmo após a Revolução Francesa (1789-1799, século 18), que derrubou a nobreza do país e colocou as demais dinastias europeias em alerta, a figura do aristocrata seguia expressando – ainda que de forma um pouco mais discreta – o estilo de vida de excessos da corte. Uma aparência feita de roupas ostensivas era sinal de status, uma clara identificação de que tal pessoa era rica e poderosa.  Ao longo do século 19, no entanto, as mudanças no guarda-roupa masculino já eram evidentes. 

 Percebendo que as mudanças políticas e sociais da Europa tinham afetado definitivamente o modo de vestir dos homens, o psicanalista inglês John Flügel foi uma das pessoas que mais notadamente catalisou as novas tendências. No início do século 20, ele identificou um fenômeno que chamou de The Great Male Renunciation – ou “a grande renúncia dos homens”.

 

Mesmo conhecido pelos figurinos excêntricos, David Bowie também  teve sua fase “o menos é mais” na figura do dândi Thin White Duke
 

Fim da vaidade? Não
O termo trazia a palavra “renúncia” como referência à rejeição dos homens ao rebuscamento e em nome de uma aparência mais sóbria. Os cortes, tecidos e cores que se passou a identificar como “masculinos” primavam então pela sobriedade e não mais pela extravagância. A aparência continuava transmitindo o grau de status, mas agora ser discreto era a regra.

  Isso não significava, no entanto, que o novo conceito prescindisse de estilo – a histórica elegância do homem britânico está aí para provar que não é esse o caso. Porém, não havia mais lugar para cores chamativas, tampouco espaço para o farfalhar das capas sobrepostas aos fraques. Os tons passaram a ser frios e as silhuetas simples, como as do terno que conhecemos hoje.

 A verdade é que o dinheiro havia começado a mudar de mãos e estava cada vez mais em poder dos chamados “novos aristocratas” - e não mais da nobreza. Uma diferença  fundamental diferenciava os dois grupos: enquanto os nobres viviam apenas para desfrutar os privilégios concedidos por seus títulos (duque, conde etc), os novos aristocratas, também conhecidos como “burgueses”, eram homens de negócios.

  Essa nova classe endinheirada estava mais atenta aos apelos da vida prática e às exigência da rotina de trabalho. Precisavam e queriam colocar a “mão na massa”. O ócio da nobreza como retrato de uma vida ideal estava ficando para trás. Agora as pessoas andavam nas ruas, trabalhando e dividindo o espaço urbano. Esse novo cenário forçava a convivência entre diferentes classes, algo impensável até o século 18.  O próprio mundo dos negócios exigia isso. Parecia natural que as roupas acompanhassem os novos movimentos do corpo.

 

Na vida real o ator George Clooney figura entre os mais bem vestidos: ternos bem cortados, cores sóbrias e, neste caso, apenas um lenço como acessório
 

Os ternos chegam aos guarda-roupas masculinos
Foi assim que tecidos brilhantes, ou muito decorados, e adornos desnecessários (cartolas, bengalas, pincinets) sucumbiram à nova realidade de uma Europa agora industrial. Os acessórios deixaram de ser supérfluos para se tornarem úteis, como os relógios. E a qualidade, resistência e durabilidade do terno fizeram do alfaiate uma figura historicamente ligada a um luxo discreto, escondido na gravata standard ou num corte perfeito. Essa era a nova elegância para os homens.

  O que a história nos mostra é que essa moda não teve nada de passageira. Se hoje temos a imagem de um homem sofisticado calçando um belo e resistente Oxford e vestindo paletós em tons predominantemente sóbrios, é porque um dia os senhores renunciaram ao exagero e abraçaram a simplicidade. E pelo menos até agora, nenhum estilista do mundo conseguiu alterar esses códigos. 

 

 

 

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